quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Síntese do Texto de Marcuschi ( 1ª parte )

Produção Textual, Análise de gêneros e Compreensão




Os gêneros são atividades discursivas socialmente estabilizadas que se prestam aos mais variados tipos de controle social e até mesmo ao exercício de poder. Os gêneros textuais são nossa forma de inserção, ação e controle social no dia-a-dia.
Podemos dizer que o controle social pelos gêneros discursivos é incontornável, mas não determinista. Ele não cria relações deterministas nem perpetua relações, apenas manifesta-as em certas condições de suas realizações.
A vivência cultural humana está sempre envolta em linguagem, e todos os nossos textos situam- se nessas vivências estabilizadas em gêneros. A língua é uma atividade sociointerativa de caráter cognitivo, sistemática e instauradora de ordens diversas na sociedade.

A questão da intergenericidade: que nomes das aos gêneros?

As designações que usamos para os gêneros não são uma invenção pessoal, mas uma denominação histórica e socialmente constituída. É difícil determinar o nome de cada gênero de texto, que se imbricam e interpenetram para constituírem novos gêneros.
Em muitos casos, apenas o local em que um texto aparece permite que determinemos com alguma precisão de que gênero se trata. Mas o certo é que quando se tem algum problema ou conflito na designação, ela surge em atenção ao propósito comunicativo ou função.
A questão central não é o problema da nomeação dos gêneros, mas a de sua identificação, pois é comum burlarmos um cânon de um gênero fazendo uma mescla de formas e funções. A lingüista alemã Ulla Fiz utiliza a expressão “intertextualidade tipológica” para designar esse aspecto de hibridização.
É provável que a intergenericidade seja uma situação bem mais natural e normal do que imaginamos, e os textos convivem em geral em interação constante. A intergenericidade de funções e formas de gêneros diversos num dado gênero deve ser distinguida da questão da heterogeneidade tipológica do gênero, que diz respeito ao fato de um gênero realizar sequências de vários tipos textuais.
1. Intergenericidade à um gênero com a função de outro
2. Heterogeneidade tipológica à um gênero com a presença de vários tipos.
Há também um movimento histórico que se dá pela funcionalidade do gênero e pela particular situação de seu autor. Não é comum que os textos procedam a essa migração. Mas isso existe e pode ser notado em muitos textos históricos.
Aspecto interessante na identificação de um gênero textual é a dificuldade de que, às vezes sentimos, de determinar o início e o final do texto enquanto entidade empírica.

A questão intercultural.

Os gêneros não tem a mesma circulação situacional em todas as culturas.
O aspecto intercultural é crucial quando se trata do ensino de uma segunda língua. Não podemos supor que em todas as culturas se escreva uma carta do mesmo modo, nem que se dê um telefonema da mesma maneira.
Haveria ainda um aspecto importante a tratar nesse caso, ou seja, o problema da variedade cultural dentro de um mesmo país e como isso deveria ser encarado pelo próprio livro didático. Não se deveria privilegiar o urbanismo elitizado, mas frisar a variação lingüística, social, temática, de costumes, crenças, valores, etc.
A vivência cultural humana está sempre envolta em linguagem e todos os textos situam-se nessas vivências estabilizadas simbolicamente.

A questão do suporte de gêneros textuais.

É necessário reservar um lugar importante ao modo de manifestação material dos discursos, ao seu suporte, bem como ao seu modo de difusão: enunciados orais, no papel, radiofônicos, na tela do computador, etc.
O suporte não é neutro e o gênero não fica indiferente a ele. Ele é imprescindível para que o gênero circule na sociedade e deve ter alguma influência na natureza do gênero suportado. Mas isso não significa que o suporte determine o gênero e sim que o gênero exige um suporte especial.
O gênero é sempre identificado na relação com o suporte.
Suporte de um gênero é uma superfície física em formato específico que suporta, fixa e mostra um texto. Como ele tem um formato específico e é convencionalizado, ele pode ter contribuições ao gênero.
Existem os suportes convencionais ( Livros, Livros didáticos, Jornais, Revistas, Rádio, Televisão, Telefone, Quadro de avisos, Outdoor, Encarte, Folder, Luminosos, faixas, etc. ) e os suportes incidentais ( Embalagem, Pára-choques e pára-lamas de caminhões, roupas, Corpo humano, Paredes, Muros, Paradas de ônibus, Estações de metrô, Calçadas, Fachadas, Janelas de ônibus, etc. ). E existem os serviços em função da atividade comunicativa ( Correios, E-mail, Mala- direta, Internet, Homepage e Sites).

Análise dos gêneros na oralidade.

Os falantes têm uma idéia bastante clara das estratégias de produção de uma narrativa, de um comentário, etc. Essa competência classificatória “ingênua” opera com muita precisão em todas as situações diárias e permite que expressemos juízos de valor quanto à adequação dos textos produzidos.
O saber lingüístico, o saber enciclopédico e o saber interacional são processadores que operam como mecanismos que ativam a produção.
Os interlocutores seguem em geral três critérios para designarem seus textos: o canal ou meio de comunicação; os critérios formais; e a natureza do conteúdo.

Análise de gêneros textuais na relação fala e escrita.

Sociedades tipicamente orais desenvolvem certos gêneros que se perdem em outras tipicamente escritas e penetradas pelo alto desenvolvimento tecnológico.
Aspecto central nesta questão é a impossibilidade de situar a oralidade e a escrita em sistemas lingüísticos diversos, de modo que ambas fazem parte do mesmo sistema da língua.
Não postulamos uma simetria de representação entre fala e escrita, mas uma relação sistêmica no aspecto central das articulações estritamente lingüísticas.

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